15

O estado vegetativo só aumenta. Já não tenho mais palavras com quais poderia encher esse papel vazio, essa tela branca. Alguns segundos passam, o cérebro pára por um momento de funcionar. Demora para assimiliar as informações, mas uma hora eu consigo. Finalmente. Ao menos uma parte do todo já não me é tão mais borrada... E a pior coisa do mundo, às vezes, é enxergar com clareza.
Dor nos olhos, de novo. Corpo fraco, ah, esse corpo... Corpo maldito. Quero ser apenas energia, somente algumas partículas. Chega de matéria, de pensamentos, puta que pariu! Estou farto, cansado, estufado até o rabo de infelicidade. De tapa na cara. Pra mim, chega.
Que merdas são essas que eu estou escrevendo? Nem eu mesmo sei. Não sei nem o meu nome, porra. Sou apenas um personagem inventado por uma menina estúpida que acha que está fazendo ficção apenas por não falar diretamente ao leitor. Pior, uma manceba que acredita ter leitores. Coitadinha. Mas eu engano alguém?? Ela engana alguém? Hein? HEIN???!!! Não. Não. Merda.
Não adianta. Sei lá meu nome. Foda-se o meu nome. Por enquanto, continuarei existindo, pois quem me inventou deve ser teimoso e burro pra cacete - tem uma mania imbecil de persistir nas coisas em que acredita que darão certo.

14

Estou há horas sentado, na frente deste computador. Meus olhos estão secos, o pescoço, rígido; a dor na testa contribui para a constante diminuição de sentido em tudo que leio ou ouço. Mesmo assim, não saio do lugar. Permaneço na cadeira, por mais alguns segundos, fingindo estar confortável assim. Eu gosto de fingir pra mim mesmo. É bem gostoso, de quando em vez, a gente se enganar. Como é. Meu passa-vida preferido. Ô delícia! E não é que amanhece? Teimosia. Quisera eu ser assim, tão persistente...
Nada a te declarar, pobre leitor ficcional. Aliás, ocorre-me no momento algo para declarar-te, efetivamente - como não pensara nisso antes? -; declaro a ti o meu amor. O meu mais tenro amor. A insegurança bateu e eu te criei, mas hoje não me arrependo. Vejo como tu me fizeste bem. E que bem! Não me sinto mais tão sozinho, tão não-lido. Afinal (meu querido), quem mais que não tu, pra me ler? Pra aceitar meu não-assunto, engolir meu não-orgulho e reconhecer meu não-sotaque? Ah, sim, digo sotaque mesmo. Vai dizer que não consegues me ouvir? Contra outra. Já está tarde, quero dizer, já estar cedo. Cedo demais pra cair na tua laia, leitorzinho adorado. Não, espera - apenas brinco! Fica mais um pouco, eu te peço. Só não expresso a ti melhor a minha vontade, a minha necessidade, porque estou muito, leia-se muito, cansado. Meus pulsos estão latejando - malditas teclas frias.
Não sei por qual processo estou passando agora (não vás embora - eu imploro); só sei que não é o mesmo de ontem. Não é triste nem feliz. É, apenas. Estou sendo demais, e isso cansa, viste. Cansa mais que tudo isso junto, essa não-greve e esse não-amor. A cada segundo que passa, mais um nervo rijo, mais um NÃO. Pois bem. Escrevo enquanto minhas mãos ainda se movem. Se for preciso, fazem a guerra também - mas que guerra? A não-guerra, é claro.
Está bem, está bem, tu ganhaste... Podes ir, se quiseres. Vou fingir que não me importo. Até mais ver, querido leitor, estou indo morrer afogado em meu próprio orgulho.