32

Sinto-me como se fosse um absurdo estar bem. Fico estranho quando não há nada de errado. É a este nada que me resumi, caro leitor imaginário. Sem relatos, sem mundo exterior, sem imaginação. Apenas sensações, somente o registro do que ficou - eu e meu corpo plasmado. Volto ao estranhar: sentir medo da chuva que vinha me deu um prazer que há muito não me atingia. E o medo inocente me lembrou que estava faltando o medo doentio, e este veio imediatamente cumprir presença. E lá se foi meu dia de novo.
E o não estar apaixonado por ninguém. Vive-se em independência, afinal? Só o que vi até agora foi caos. E a falta de sonhos - passar o dia tentando vivê-lo, e se sobrar tempo, reciclar algum delírio deixado de lado. E o desinteresse, ah, essa falta de apego que se defronta a todo segundo com a minha carência patológica. E esses dias. Essas horas. Em que o foco se perde, a infância volta, e a pele grita. Ânsia. Um dia eu volto pra mim mesmo. Prometo-me.

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subsolo
nado num
mar de livros
que nunca irei ler
livros tais que só enchem
meu ser de algo
que não possa
chamar-se
vazio