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ânsia ânsia ânsia ancião que se foi não pra sempre mas por hora que vontade maldita que vontade que eu tenho de não ser eia, sereiando pela estrada mais uma vez vamos nós nesta merda nesta mente pseudônima atritada que tamborila por tantas outras palavras belas sonoras que vontade de vomitar e não ouvir todas as músicas do mundo pois não há mais alma pra escutar o vazio o descompasso a sensação o êxtase de pele escamada eriçada pronta para crescer rasgar-se na vida adulta no adultério diário monetário, vamos para o crematório, meu amor.

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Odeio o início das coisas, meu deus, como ODEIO. Pronto, já foi. Faz sair sangue, não é mesmo, Clarice querida? Pois sim. Não sei se a mudança é o necessário. Alguma ação já faria diferença. Alguma compreensão de tudo que está se passando. Mas como assim? COMO ASSIM, PORRA?! Será tão simples quanto parece? Preciso apenas entender porque todos os dias, todos os malditos dias nesses últimos meses pelo menos uma vez eu tenho me perguntado por que diabos estou como estou, se há algo produtivo nisso, se dói, se existe, e se existir, se haverá calma em saber que existe. Não pode ser tão simples, eu já estou aqui, já me submeto a este nível mínimo de compreensão. Não. Algo a mais tem que ter, não é possível, não posso ser o único a ter crises existenciais diárias. Simplesmente NÃO É POSSÍVEL. Sair. Pular milhões de músicas, todas dão aflição, nenhuma serve ao momento. Nenhum livro agrada, nenhuma linha, nenhuma palavra sequer. Filmes me deprimem. Pessoas me ajudam e vão embora. Algumas vão embora pra sempre e eu não consigo mais suportar isso. Vida cada vez mais anulada a cada minuto que passa. Cada vez mais imbecil, mais inútil, mais desesperada, cada vez menos.