claro enigma
releio as notas
dos devaneios
sem querer rimar.
o olhar s'embota
do texto feio
de perna torta
nenhum recheio;
só pesar.
feito idiota,
o que eu anseio
é um freio que me faça
ponderar.
claro enigma,
enigmacabro,
vinte anos
sem pensar.
55
...feito tatuagem velha. o resto de tinta ainda pulsa junto com o teu sangue, mas não sabe mais por onde se enveredar. já tem seus limites. fermenta-se, ao longo dos anos, entre as tuas camadas de pele. mas não te abandona nunca.
***
magritte
ceci n'est pas
un poème.
Escrito por
Aline Zouvi
54
respire. seja uma prisão, você também. inspire alguém - absorva a pessoa e devolva-a ao mundo, cheia de novas idéias. saia de casa. saia do seu corpo. volte. perpasse as suas entranhas. veja se você se reconhece nelas. afogue-se um pouco em seu próprio sangue. como se sente? livre? não, você não é livre, meu caro. a liberdade é que é você. agora vá para os seus músculos. e não saia deles até encontrar uma resposta que satisfaça:
Escrito por
Aline Zouvi
53
a não-hora e a não-vez
I
eu macabéo
tu macabéas
ele macabéa - ela também
nós macabeamos
vós macabeais
eles macabéam
II
I
eu macabéo
tu macabéas
ele macabéa - ela também
nós macabeamos
vós macabeais
eles macabéam
II
o pulmão de sanfona - exalar esse cheiro triste de respiração não ouvida. as entranhas ainda tremem de expectativa. sou todo corpo e fluidos; o espírito está muito bem escondido. não me forço a viver. o sangue simplesmente não pára e, enquanto isso, vou me encaixando às horas e às vezes que todos nós temos. as minhas augustas (mal-tragadas?) horas estão por vir - no momento, apenas vivo.
Escrito por
Aline Zouvi
52
de amor em amor
vou construindo meus pulmões
de cigarro em cigarro
fortalecendo meu câncer
amoroso
tão leve e belo
o vento mortal
e os papéis voando
pijama velho e café ralo
na mesa à qual você nunca se sentou
ler um jornal que não me agrada
redigir e digerir com as teclas
o pão amassado pela minha não-experiência
das coisas mais simples desta vida
pensar - e pesar, com a consciência que me resta -,
as atitudes que não tomei.
vou construindo meus pulmões
de cigarro em cigarro
fortalecendo meu câncer
amoroso
tão leve e belo
o vento mortal
e os papéis voando
pijama velho e café ralo
na mesa à qual você nunca se sentou
ler um jornal que não me agrada
redigir e digerir com as teclas
o pão amassado pela minha não-experiência
das coisas mais simples desta vida
pensar - e pesar, com a consciência que me resta -,
as atitudes que não tomei.
Escrito por
Aline Zouvi
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