51

vou absorvendo
as tuas tristezas
qual mata-borrão das almas
de ti, nada sobra
e eu, encharcado, continuo a caminhar
pesado do teu nanquim velho
do teu passado que nunca foi meu;
e atrevo-me. olho pra trás
para reviver o momento vazio
e parafrasear-me
até a minha mais completa exaustão.

50

minhas roupas estão impregnadas do nervoso que sinto ao lembrar que estou vivo. encardidas e pesadas de tanta hipótese sem conclusão e noites em claro. minha coluna se curva e não tenho vontade de levantar, fico aqui, fico aqui enquanto ainda posso. insiro-me neste lapso de segundo no qual a tua atenção ainda se volta para mim - e não sei como aproveitá-lo. i want you, you know i want you so bad, it's driving me mad, it's driving me mad. i'm so heavy. encardidas e pesadas. cheias do ar que você escolheu expirar. fedendo a falta de inspiração e cigarro barato. volto a me calar.

49

o escritor nasce no movimento da folha
que desliza [para fora da máquina]
sujo de tinta
sujo de sentimento e sangue
e morre com uma caneta-tinteiro
cravada no peito